quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O tempo.


O velho acorda, com seu corpo dolorido e trêmulo. O seu olhar cansado vasculha o local desconhecido. O quarto era simples, com carência de móveis. A pintura era rústica e falhada. Alguns azulejos, que um dia foram brancos, estavam caídos.
O ambiente não tinha nada de acolhedor, muito menos familiar. Era frio e inquietante.
O velho homem tenta levantar. com dificuldade, para livrar-se da boca seca.
A dor no corpo e a sede repentina não o incomoda tanto quanto sua falta de memória. Caminhou lentamente nos corredores, cruzava com outros velhos a beira da morte, como ele, mas não reconhecia nenhum rosto.
Depois da sofrida caminhada, avistou um bebedouro e aliviou-se da sede que o afligia. Notou que uma enfermeira transitava pelo recinto. Percebeu que estava em um asilo, se é que poderia ser chamado assim aquele lugar. O velho resolveu conversar com a enfermeira, no intuito de recuperar ao menos um fio de memória.
- Ei moça, alguém veio me visitar ?
- Não, ninguém vem te visitar a séculos - Respondeu ríspida, a enfermeira - A propósito, volte já para seu quarto.
O velho distraído com os desenho que a pintura falhada formava, praticamente se esqueceu da pergunta que acabara de fazer.
- Tudo bem. - Respondeu, simplesmente o velho.
Voltando lentamente para o quarto, notou que sobre o criado-mudo ao lado de sua cama jazia uma prancheta com uma ficha anexa.
O velho terminou de ler a ficha e subitamente olhou para sua mão esquerda, trêmula. Notou que não tinha nenhuma aliança ou uma marca que a jóia supostamente deixaria. Percebeu que nunca foi casado e estava sozinho até aquele momento de sua vida.

Na prancheta dizia:
NOME: Luiz Fernando de Souza Costa
IDADE: 80 anos
FAMILIARES: Nada consta
CÔNJUGE: Nada consta

Um aperto súbito no coração. Largou a prancheta em sua cama e caiu inerte.

2 comentários:

JB Jefferson Bastos disse...

Vc é muito estranho, porem gosto de vc criança...Nunca se esqueça que nossos sonhos estão ai para que possamos torna-los realidades...
(Jefferson Bastos).

Unknown disse...

O nome pode parecer, ou até ser o seu Fê, mas o que me alivia é que você não tem 80 anos. Falta muito pra chegar lá e com a certeza de que tudo pode acontecer...
(Emeli Chaves).